No dia 9 de
dezembro o Projeto Afrolinguagens teve seu último evento “Territórios Negros:
Afro-Brasileiros em Porto
Alegre ”, um percurso por pontos históricos marcados pela
presença da população negra em nossa cidade. Estiveram presentes alunos do
Proeja Vendas, Proeja Administração, Gestão Ambiental, formandos do curso de
Licenciatura em Ciências da Natureza, as professoras Aline Ferraz, Claudia
Estima, Carmem Rejane e Marina Cyrillo.
A
ideia deste passeio nasceu do trajeto feito pelo professor, poeta e um dos
idealizadores do dia 20 de novembro Oliveira Siveira por pontos históricos
negros no centro da cidade. Essa iniciativa é desenvolvida pela Secretaria
Municipal da Educação em conjunto com a Companhia Carris, Procempa e pelo
Gabinete de políticas Públicas para o Povo Negro.
Passamos
pelo Largo da Forca, Pelourinho, Mercado Público, Redenção, Colônia Africana,
Ilhota, Quilombo do Areal e Largo Zumbi dos Palmares. Orientados pela guia
Fátima Rosane da Silva André, funcionária da Carris, tivemos a oportunidade de conhecer as raízes
negras ainda vivas em Porto Alegre. Durante
o passeio descemos em três pontos. Primeiro local foi o Largo da Forca (atual
Praça Brigadeiro Sampaio) lugar no qual eram executados os escravizados que de
alguma forma desobedeciam às leis desumanas impostas pelos seus senhores. Justamente
nessa praça se encontra o Tambor, primeiro monumento do Museu Percurso do Negro
de Porto Alegre. Essa obra é o símbolo da presença africana e de seus
descendentes na construção e na história da cidade.
Depois fomos ao
Mercado Público onde se encontra a obra Bará do Mercado no meio da encruzilhada
central. Diz a tradição religiosa de matriz africana que se encontra no
assentado nesse lugar o Orixá Bará Agelu Olodiá, senhor dos caminhos, da
fartura, guardião das casas, dono das encruzilhadas e dos cruzeiros. De fato,
essa obra se constitui em ponto de convergência para religiosos e simpatizantes
representando a dimensão sagrada africana presente no patrimônio histórico e
cultural de Porto Alegre.
Por fim,
visitamos o Quilombo do Areal sendo muito bem recebidos por Fabiane Xavier,
membro da Associação Comunitária Quilombo do Areal. Num pequeno beco repleto de
casas geminadas, chamado de Avenida Luis Guaranha, vivem os remanescentes de escravizados
da antiga chácara da Baronesa do Gravataí. É, pois, nesse espaço de resistência
e de resgate da memória, em área valorizada pela especulação imobiliária, que os
moradores lutam há muito pela titulação de quilombo urbano garantindo a sua
permanência e a de seus descendentes.
Em verdade, não foi
à toa que terminamos o percurso no Quilombo do Areal: iniciamos em pontos
históricos que remontam à escravidão (largo da forca, mercado público etc) até
chegarmos a uma comunidade negra marcada pela busca por seus direitos, enfim,
por uma vida digna. A mensagem deixada é clara: é preciso conhecer e resgatar
as memórias das populações negras de outrora para assim podermos, no presente,
agir de modo que essas populações adquiram condições de alcançar a cidadania
que lhes foi negada desde o fim da escravidão – assim como os membros do
Quilombo do Areal.
§
O projeto Afrolinguagens encerra suas atividades do ano de 2013 fazendo
algumas reflexões obtidas a partir das experiências que tivemos ao longo do
ano.
Concluímos, em primeiro lugar, que há uma grave lacuna no ensino
escolar de nosso país: a invisibilização da história e da cultura afro-brasileiras
(o que não é nenhuma novidade). Mesmo após a criação da Lei 10.639 ainda não
vemos esses temas sendo tratados com propriedade nas instituições de ensino e
muito menos na mídia. Constatamos que houve e há muita resistência de alguns
professores pois nunca vimos um real interesse de sua parte em proporcionar a
alunos a oportunidade de entrar em contato com as culturas de matriz africana.
De fato, tais conhecimentos não se restringem aos negros, pelo
contrário, todos deveriam ter noção da contribuição das etnias negras e também
das indígenas na construção do povo brasileiro. Infelizmente vigora o
eurocentrismo em nosso país, principalmente no Rio Grande do Sul, estado em que
a população negra é minoria.
Por outro lado, acreditamos que ações como a do Projeto
Afrolinguagens devem ter seu espaço de atuação, pois apenas com o resgate da
própria história e o desvelamento dos mecanismos do racismo que as populações
negras conseguirão conquistar seus direitos (saúde, educação, cidadania,
segurança, tratamento digno) negados por tanto tempo e, principalmente, lutar
pela construção de uma sociedade mais justa.
Temos certeza que conseguimos cumprir nosso objetivo: discutir a
cultura afro-brasileira com os alunos do IFRS Porto Alegre. Sabemos que há
muito por fazer, pois temos muitas barreiras a derrubar, entretanto, os
primeiros passos foram dados.