segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Territórios Afro-Brasileiros e Encerramento do Ano



No dia 9 de dezembro o Projeto Afrolinguagens teve seu último evento “Territórios Negros: Afro-Brasileiros em Porto Alegre”, um percurso por pontos históricos marcados pela presença da população negra em nossa cidade. Estiveram presentes alunos do Proeja Vendas, Proeja Administração, Gestão Ambiental, formandos do curso de Licenciatura em Ciências da Natureza, as professoras Aline Ferraz, Claudia Estima, Carmem Rejane e Marina Cyrillo.

            A ideia deste passeio nasceu do trajeto feito pelo professor, poeta e um dos idealizadores do dia 20 de novembro Oliveira Siveira por pontos históricos negros no centro da cidade. Essa iniciativa é desenvolvida pela Secretaria Municipal da Educação em conjunto com a Companhia Carris, Procempa e pelo Gabinete de políticas Públicas para o Povo Negro.

            Passamos pelo Largo da Forca, Pelourinho, Mercado Público, Redenção, Colônia Africana, Ilhota, Quilombo do Areal e Largo Zumbi dos Palmares. Orientados pela guia Fátima Rosane da Silva André, funcionária da Carris,  tivemos a oportunidade de conhecer as raízes negras ainda vivas  em Porto Alegre. Durante o passeio descemos em três pontos. Primeiro local foi o Largo da Forca (atual Praça Brigadeiro Sampaio) lugar no qual eram executados os escravizados que de alguma forma desobedeciam às leis desumanas impostas pelos seus senhores. Justamente nessa praça se encontra o Tambor, primeiro monumento do Museu Percurso do Negro de Porto Alegre. Essa obra é o símbolo da presença africana e de seus descendentes na construção e na história da cidade.

Depois fomos ao Mercado Público onde se encontra a obra Bará do Mercado no meio da encruzilhada central. Diz a tradição religiosa de matriz africana que se encontra no assentado nesse lugar o Orixá Bará Agelu Olodiá, senhor dos caminhos, da fartura, guardião das casas, dono das encruzilhadas e dos cruzeiros. De fato, essa obra se constitui em ponto de convergência para religiosos e simpatizantes representando a dimensão sagrada africana presente no patrimônio histórico e cultural de Porto Alegre.

Por fim, visitamos o Quilombo do Areal sendo muito bem recebidos por Fabiane Xavier, membro da Associação Comunitária Quilombo do Areal. Num pequeno beco repleto de casas geminadas, chamado de Avenida Luis Guaranha, vivem os remanescentes de escravizados da antiga chácara da Baronesa do Gravataí. É, pois, nesse espaço de resistência e de resgate da memória, em área valorizada pela especulação imobiliária, que os moradores lutam há muito pela titulação de quilombo urbano garantindo a sua permanência e a de seus descendentes.

Em verdade, não foi à toa que terminamos o percurso no Quilombo do Areal: iniciamos em pontos históricos que remontam à escravidão (largo da forca, mercado público etc) até chegarmos a uma comunidade negra marcada pela busca por seus direitos, enfim, por uma vida digna. A mensagem deixada é clara: é preciso conhecer e resgatar as memórias das populações negras de outrora para assim podermos, no presente, agir de modo que essas populações adquiram condições de alcançar a cidadania que lhes foi negada desde o fim da escravidão – assim como os membros do Quilombo do Areal.

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O projeto Afrolinguagens encerra suas atividades do ano de 2013 fazendo algumas reflexões obtidas a partir das experiências que tivemos ao longo do ano.

Concluímos, em primeiro lugar, que há uma grave lacuna no ensino escolar de nosso país: a invisibilização da história e da cultura afro-brasileiras (o que não é nenhuma novidade). Mesmo após a criação da Lei 10.639 ainda não vemos esses temas sendo tratados com propriedade nas instituições de ensino e muito menos na mídia. Constatamos que houve e há muita resistência de alguns professores pois nunca vimos um real interesse de sua parte em proporcionar a alunos a oportunidade de entrar em contato com as culturas de matriz africana.

De fato, tais conhecimentos não se restringem aos negros, pelo contrário, todos deveriam ter noção da contribuição das etnias negras e também das indígenas na construção do povo brasileiro. Infelizmente vigora o eurocentrismo em nosso país, principalmente no Rio Grande do Sul, estado em que a população negra é minoria.


Por outro lado, acreditamos que ações como a do Projeto Afrolinguagens devem ter seu espaço de atuação, pois apenas com o resgate da própria história e o desvelamento dos mecanismos do racismo que as populações negras conseguirão conquistar seus direitos (saúde, educação, cidadania, segurança, tratamento digno) negados por tanto tempo e, principalmente, lutar pela construção de uma sociedade mais justa.

Temos certeza que conseguimos cumprir nosso objetivo: discutir a cultura afro-brasileira com os alunos do IFRS Porto Alegre. Sabemos que há muito por fazer, pois temos muitas barreiras a derrubar, entretanto, os primeiros passos foram dados.